Os incontáveis lançamentos de produtos à base de vegetais, com textura, sabor, cheiro e aparência parecidos com os de carne animal não visam atingir apenas o público vegetariano ou vegano. São alternativas mais sustentáveis, algumas mais saudáveis, para o nosso dia a dia. A intenção é ser um produto saboroso para que todos tenham prazer de consumir e não somente um pequeno nicho de mercado.
Agora estamos em uma nova era e a pandemia do coronavírus está sendo um grande marco. Acreditamos que todos tenham passado por situações desafiadoras. Muitas mudanças e transformações ainda acontecerão. Temos esperança que todos sairão deste período com muitas reflexões e dispostos a cuidar mais do nosso planeta. Acreditamos que o mundo agora entrará numa nova etapa, na qual existirá mais ética e empatia. Precisamos pensar no todo, mas lembrando que a transformação começa em cada um de nós.
Muitas pessoas mudaram seus hábitos alimentares durante a pandemia, principalmente pensando na saúde e fortalecimento da imunidade. Todo mundo sabe que uma dieta nutricionalmente balanceada envolve a ingestão de frutas, legumes, verduras. Já existem muitos estudos comprovando a eficiência de um estilo de vida baseado em uma ingestão maior de vegetais, isto tudo se deve aos compostos bioativos presentes, assim como ao alto teor de fibras.
Nem estamos entrando ainda no mérito dos industrializados. Em se tratando de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e obesidade, a recomendação médica é unânime: coma mais vegetais!
Ou você já ouviu alguém falar que brócolis faz mal à saúde?
A pandemia trouxe mais razões para reduzirmos o consumo de alimentos de origem animal, resultando em um crescimento ainda maior de produtos à base de plantas. Um desses motivos está relacionado a doenças envolvendo o sistema imunológico. A disbiose intestinal, por exemplo, ocorre quando há um desequilíbrio na flora intestinal. Estudos já associaram a disbiose ao alto consumo de carne e, consequentemente, um baixo consumo de fibras, já que carne não possui esse nutriente (Zheng et al., 2019). Portanto, ao evitar alimentos de origem animal, garantimos uma microbiota mais saudável.
Várias doenças infecciosas que observamos nos últimos tempos estão de certa forma relacionadas aos animais. Gripe suína, doença da vaca louca, gripe aviária, AIDS, Ebola, o próprio coronavírus. De acordo com a OMS, mais de 60% estão relacionadas com a produção de animais para consumo (WHO, 2018).
A preocupação com o meio-ambiente, com o futuro do nosso planeta, ocorreu de maneira exponencial. As pessoas estão mudando e repensando seus comportamentos em prol de hábitos mais sustentáveis. Para facilitar essa transição, os análogos plant-based ganham a cena, pois trazem conveniência, sem precisar abrir mão do sabor.
Um outro ponto levado em consideração pelas empresas é o fato de não querer mudar o consumidor, mudar seus hábitos. A solução é a inclusão. A maioria das pessoas não se sente confortável com mudanças e, por isso, há uma forte resistência a elas.
O objetivo das indústrias não é mudar esses hábitos, mas oferecer alimentos que as pessoas já estão acostumadas, porém que sejam de fontes mais sustentáveis e algumas até mais saudáveis. Tudo isso de maneira conveniente, para que os consumidores possam ter outras opções, além dos derivados de origem animal, para incluir no seu dia a dia. Uma previsão para o futuro é que a carne será consumida ocasionalmente, sendo considerada uma refeição de luxo ou de alguma celebração.
A revolução plant-based não é só mais uma moda, estamos vivenciando as deficiências e problemas gerados na cadeia de abastecimento de carne. Sem mencionar o crescimento da população, que em breve alcançará os 10 bilhões de pessoas. Já não conseguimos entregar carne e outros alimentos para todos e se aumentarmos a criação de animais para alcançar esta meta, não teremos mais terras e nem recursos disponíveis. Portanto, está claro que investir em proteínas alternativas, confiáveis e de alta qualidade é uma excelente oportunidade, para você e para o planeta.
Estamos vendo muitos lançamentos surgindo nesse mercado. E quem está investindo nessa categoria, está pensando estrategicamente e com muita inteligência. Dados de uma pesquisa feita pela Zion Market Research estimam que o mercado de análogos de carne, feitos à base de vegetais, valerá US$ 21 bilhões até 2025. O que corresponde a um crescimento anual médio de 8,6% (VEGNEWS, 2020).
MERCADO BRASILEIRO
Aqui no Brasil, a Superbom foi a pioneira nessa categoria, lançando um hambúrguer plant-based com aspectos sensoriais que remetem ao hambúrguer de carne bovina. O lançamento foi feito em maio de 2019, na APAS SHOW, maior feira de alimentos, bebidas, higiene, limpeza, equipamentos e tecnologia para supermercados do mundo. Apesar de já ser uma empresa com mais de 90 anos de mercado e já desenvolver produtos análogos de carne há mais de 50 anos, somente agora, com os avanços das tecnologias de extrusão de proteínas vegetais e aromas, foi lançado o Burger Gourmet Vegan (SUPERBOM, 2020).
A empresa pensou em trazer uma alternativa que fosse similar a um hambúrguer de carne animal, porém com apelos bem mais sustentáveis e saudáveis. Além disso, o produto não contém ingredientes alergênicos, como a soja e o trigo, proteínas mais comuns encontradas nessa categoria de produtos. A opção desenvolvida foi à base de proteína de ervilha. É enriquecido com vitaminas A, B9 e B12, além dos minerais zinco e ferro. Possui 15g de proteínas por unidade, 5g de fibras e somente 158 kcal (um hambúrguer animal com a mesma quantidade em gramas possui 250 kcal em média).
A Fazendo Futuro teve uma trajetória bem inspiradora. Em junho do ano passado, lançou a primeira versão do seu hambúrguer vegetal. Logo após o lançamento, deu ouvidos aos feedbacks dos consumidores e investiu no aperfeiçoamento da sua formulação, reduzindo o aroma de defumado e trazendo melhorias em sua textura. Atualmente, na versão 2.0, o hambúrguer faz sucesso tanto no varejo quanto no Food Service (FAZENDA FUTURO, 2O2O).
Além disso, a empresa já está se destacando internacionalmente e foi avaliada em mais de 700 milhões de reais (O PETRÓLEO, 2020).
Consegue perceber o potencial desse mercado?! As projeções são muito otimistas e chamaram a atenção dos homens mais ricos do mundo, como Bill Gates e Jeff Bezos, os quais já garantiram a sua parte nesta revolução plant-based.
Outra empresa que vem revolucionando o mercado plant-based é a chilena NotCo e com o lançamento do seu hambúrguer não foi diferente. Para quem não conhece, a startup conta com ajuda do Giuseppe, apelido carinhoso dado à sua inteligência artificial. Eles utilizam uma base de dados gigantesca, com diversos tipos de vegetais, por meio da qual conseguem combinações inusitadas que replicam o sabor, textura e composição nutricional dos produtos de origem animal.
No caso do hambúrguer, os ingredientes são: Água, Proteína de Ervilha, Óleo de Coco, Óleo de Girassol, Fibra de Bambu, Cacau em Pó, Proteína de Arroz, Sal, Suco de Beterraba em Pó, Chia Desengordurada em Pó, Espinafre em Pó, Minerais (Ferro e Zinco), Vitamina A, Vitamina B9, Vitamina B12, Estabilizante Metilcelulose e Aromas naturais. Um ingrediente que chama a atenção é o cacau em pó. Ele garante, além de uma coloração natural, aromas que ressaltam notas cárneas (NOTCO, 2020).
Há diversas tecnologias sendo utilizadas para a produção de alimentos plant-based. A empresa Behind the Foods criou a chamada tecnologia (PT3-Tech), que replica tecidos da carne animal (muscular, lipídico e conjuntivo) com o uso de tecidos vegetais que visam favorecer a experiência de mastigação – mas sem deixar sabor residual de vegetais. A nova formulação traz fibra de fruta e batata Konjac. Os hambúrgueres só estão disponíveis no Food Service (BEHIND, 2020).
Outra empresa brasileira que inovou por meio da tecnologia foi a Verdali. Eles utilizaram a chamada extrusão úmida, pela qual se obtém a texturização da proteína vegetal em fibras longas. Essas fibras garantem produtos com textura, sabor e suculência da carne animal. A empresa também conta com o selo “I’m green”, indicando que a embalagem utiliza plástico verde, o qual é de origem renovável e 100% reciclável (VERDALI, 2020).
O mais recente lançamento de hambúrguer plant-based aqui no país foi a entrada da Unilever no Food Service, trazendo a marca holandesa The Vegetarian Butcher (UNILEVER, 2020).
Sabemos que o preço ainda é um desafio, mas quanto mais empresas entrarem nesse mercado, mais teremos produtos acessíveis. A Mr. Veggy, lançou recentemente um hambúrguer ao preço sugerido de R$ 1,90 (unidade de 60 g). O intuito da empresa é democratizar o acesso a produtos veganos. Os lançamentos chegam nos sabores tradicional e churrasco e seu ingrediente base é a soja (MR. VEGGY, 2020).
Outras empresas que também apostaram em suas versões de hambúrgueres à base de plantas foram: Sadia, Seara, Marfrig, Frimesa, The New Butchers, dentre outras. Um destaque especial para a Jasmine que lançou recentemente um mix para preparo de hambúrguer vegetal.
MERCADO INTERNACIONAL
Com tantos lançamentos, agora vemos novos diferenciais aparecendo nesta categoria de produtos, o que não inclui somente mudanças nos ingredientes. Agora, para se destacar no mercado não basta somente fazer algo saboroso. As empresas devem pensar nos benefícios que elas trarão, tanto nas questões sociais e éticas, quanto ambientais.
Já ouviu falar em carboneutralização? Programa Carbono Neutro? Então, agora é uma tendência reduzir suas emissões de gás carbônico na atmosfera. Fazer um hambúrguer à base de vegetais já garante essa redução, mas algumas empresas foram além e anularam a sua emissão.
A australiana Fenn Foods lançou a linha VEEF em parceria com a NoCO2, empresa que calcula a pegada de carbono da “carne” vegetal moída produzida pela Fenn, ao longo de toda a vida e cadeia logística do produto. Depois disto, a Fenn Food faz um investimento nos projetos de energias renováveis da NoCO2 que de alguma maneira acabam anulando/equilibrando as emissões de gás carbônico na atmosfera (VEEF, 2020).
E já ouviu falar sobre Plástico Negativo? A No Evil Foods, pequena fabricante de “carne” vegetal, anunciou sua parceria com a rePurpose Global, um movimento apoiado por consumidores e empresas conscientes a fim de compensar sua Pegada de Plástico.
A empresa se comprometeu a se tornar Plástico Negativa, financiando a recuperação e a reciclagem de 1kg de lixo plástico para cada 1kg que eles geram. Porém, com a parceria, a estimativa é que eles reciclem 4 toneladas, o dobro do que eles geram. A missão da No Evil Foods é tornar o mundo um lugar melhor para as pessoas e para os animais. Sua parceria com a rePurpose Global gera não só impactos ambientais positivos, mas também impactos sociais (PRNEWSWIRE, 2020) (NO EVIL, 2020).
A Impossible Foods uma das pioneiras mundiais, além de ter desenvolvido uma tecnologia inovadora de obtenção de “hemoglobina” proveniente de vegetais, está apoiando várias causas sociais e ambientais. A gigante plant-based se uniu à Know Your Rights Camp, uma organização cuja missão é empoderar as comunidades negras e pardas por meio da educação, autocapacitação, mobilização em massa e liderança (VEGNEWS, 2020).
Desde o início da pandemia COVID-19, a empresa doou carne vegetal e levantou fundos de caridade suficientes para alimentar 750.000 pessoas e pretende atingir pelo menos um milhão de pessoas até o final do ano (VEGNEWS, 2020).
A grande inovação é a leghemoglobin, abreviação de hemoglobina de legumes, em inglês. A companhia alega que o que dá o sabor e o desejo pela carne é a hemoglobina presente nela. Portanto, eles desenvolveram o seu hambúrguer a fim de entregar o mesmo prazer de se comer um hambúrguer de carne. E o que entrega toda essa magia e diferencial no sabor, é a Heme, patenteada pela companhia (IMPOSSIBLE, 2020).
A Beyond Meat também está lutando pela justiça social e equidade racial. Outra gigante plant-based que está fazendo além de trazer um produto saboroso para o mundo. Ela se uniu à organização Social Change Fund, a qual visa criar uma mudança sistêmica e duradoura nas comunidades negras em toda a América e lutar por justiça em todas as frentes. Em parceria com organizações influentes, o Social Change Fund está trabalhando para acelerar a mudança social e construir uma sociedade justa e equitativa (BEYOND, 2020).
REFLEXÕES, INSIGHTS E CONCLUSÕES
Apesar de todos os fatos de que precisamos mudar nossa forma de produção e consumo de proteínas animais, há ainda algumas controvérsias e discussões pertinentes com relação a esse tema.
Um deles é o fato desses produtos entrarem na categoria de ultraprocessados, a qual está correlacionada a diversos problemas de saúde. De acordo com o Guia Alimentar da População Brasileira, essa categoria deve ser consumida esporadicamente e de maneira equilibrada, pois a maioria dos ultraprocessados possui uma composição nutricional desbalanceada.
Os ingredientes principais utilizados nos ultraprocessados fazem com que, com frequência, sejam ricos em gorduras, açúcares e sódio. A atenção dada a esses nutrientes é grande e só tende a crescer, ainda mais com a nova rotulagem nutricional frontal que entrará em vigor nos próximos anos.
Portanto, é importante sempre analisar e comparar a tabela nutricional para garantir que esteja realmente fazendo uma escolha mais saudável. O que agora, com a nova legislação, ficará ainda mais fácil, já que teremos que fazer a declaração nutricional por 100g, além de declarar por porção.
Transparência é a chave! Além de uma tendência, as pessoas estão cada vez mais exigentes e querem entender mais sobre o que estão consumindo. Vemos muitas empresas não respeitando o item básico do Código de Defesa do Consumidor: o direito à informação clara e honesta. Então, não adianta mais querer se passar por saudável e realmente não ser.
Não estamos aqui querendo impor que você mude seus hábitos alimentares ou seu estilo de vida. Somos contra extremismo e imposição. O que queremos é apresentar dados do potencial deste mercado e proporcionar algumas reflexões, insights para os seus próximos lançamentos.
Sabemos que ainda há espaço para muitas pesquisas e melhorias, mas com certeza já evoluímos e evoluiremos cada vez mais para proporcionar opções que sejam ao mesmo tempo saudáveis e sustentáveis. É uma longa e desafiadora jornada, portanto temos que valorizar cada passo dado na busca de melhores soluções.
Se você ficou interessado em garantir a sua participação nessa economia gigantesca, a Solucionária nasceu para entregar soluções para você. Juntos somos mais fortes e vamos revolucionar a maneira com que nos alimentamos. Contem com a gente!
REFERÊNCIAS
BEYOND MEAT – Instagram, 2020. Disponível em: <https://www.instagram.com/beyondmeat/>. Acesso em: 30 de outubro de 2020.
BEYOND MEAT – BEYOND MEAT X SOCIAL CHANGE FUND, 2020. Disponível em: <https://www.beyondmeat.com/whats-new/beyond-meat-x-social-change-fund/>. Acesso em: 30 de outubro de 2020.
FAZENDA FUTURO – Instagram, 2020. Disponível em: <https://www.instagram.com/fazendafuturo/?hl=pt-br>. Acesso em: 29 de outubro de 2020.
FORBES – NEGÓCIOS, 2019. Disponível em:<https://forbes.com.br/negocios/2019/09/hamburguer-feito-de-vegetais-invade-lanchonetes-e-supermercados/>. Acesso em: 29 de Outubro de 2020.
IMPOSSIBLE FOODS – IMPOSSIBLE FOODS PRODUCTS, 2020. Disponível em: <https://faq.impossiblefoods.com/hc/en-us/categories/115000924207-IMPOSSIBLE-FOODS-PRODUCTS>. Acesso em: 29 de outubro de 2020.
IMPOSSIBLE FOODS – Instagram, 2020. Disponível em: <https://www.instagram.com/impossible_foods/>. Acesso em: 29 de outubro de 2020.
JASMINE ALIMENTOS – PRODUTOS, 2020. Disponível em: <https://www.jasminealimentos.com/produtos/integral/mix-para-vegetal-burger-original/#:~:text=O%20Mix%20para%20Vegetal%20Burger,(1%20pacote%20de%2080)>. Acesso em: 29 de Outubro de 2020.
MR. VEGGY – 1° HAMBÚRGUER VEGANO COM PREÇO ACESSÍVEL PARA TODOS, 2020. Disponível em: <https://mrveggy.com/hamburguer-mari-mari/>. Acesso em: 29 de outubro de 2020.
MR. VEGGY – Instagram, 2020. Disponível em: <https://www.instagram.com/mr.veggy/>. Acesso em: 29 de outubro de 2020.
NO EVIL FOODS – WHEN WE FIRST STARTED THIS JOURNEY, WE SAW A BROKEN FOOD SYSTEM THAT DIDN’T SERVE US, 2020. Disponível em: <https://www.noevilfoods.com/about/>. Acesso em: 28 de outubro de 2020.
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VEGAN BUSINESS – MR VEGGY LANÇA PRIMEIRO HAMBÚRGUER VEGETAL COM PREÇO ACESSÍVEL, 2020. Disponível em: <https://veganbusiness.com.br/mr-veggy-lanca-primeiro-hamburguer-vegano-com-preco-acessivel/>. Acesso em: 29 de Outubro de 2020.
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Zheng et al. – Association of Changes in Red Meat Consumption with Total and Cause-Specific Mortality Among U.S. Women and Men: Two Prospective Cohort Studies,” Yan Zheng, Yanping Li, Ambika Satija, An Pan, Mercedes Sotos-Prieto, Eric Rimm, Walter C. Willett, Frank B. Hu, BMJ, online June 12, 2019, doi: 10.1136/bmj.l2110.
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